sexta-feira, 6 de maio de 2011

As Incoerências do Ano Internacional das Florestas

A Organização das Nações Unidas – ONU, estabeleceu 2011 como o “Ano Internacional das Florestas”. Este artigo, um resumo duma entrevista que dei pra revista EcoAventura (nº 18 – março 2011) sobre o tema, pretende analisar a importância fundamental que exercem as florestas para a manutenção da vida no planeta.
Quando chove, as árvores funcionam como “esponjas”, que filtram e canalizam a água abastecendo os aquíferos subterrâneos. A recarga de água dos rios depende das florestas e fica comprometida com a devastação das áreas verdes. As raízes das árvores ajudam a manter fixo o solo. Quando se destrói a floresta, o solo fica desprotegido e sem consistência, “lavando” os nutrientes que estão concentrados nos primeiros 20 centímetros de terra, o que permite o desabamento de toneladas dela morro abaixo causando as tragédias que infelizmente estamos nos acostumando a ver. Está cada vez mais comum observarmos em morros sacos plásticos, tentando conter os desmoronamentos. E isso adianta? Evidente que não.
Em relação ao aquecimento global, considerado um dos mais graves problemas ambientais do planeta, as florestas são imensos reservatórios de carbono. Esse mesmo carbono que está saturado na atmosfera com a queima de petróleo, gás e carvão. As árvores precisam de carbono para crescer e por isso,“seqüestram” CO2 da atmosfera. Quando derrubam-se as florestas, isso agrava o problema porque além de não mais absorver o carbono, ainda liberam toda a grande quantidade de carbono existente nela.
Há ainda muitas espécies de plantas e animais desconhecidas que habitam as florestas, e não me refiro somente a duendes e gnomos, que correm o risco de desaparecerem sem ao menos serem descobertas. Há muitos remédios consagrados no mercado que vieram de plantas medicinais das florestas como a aspirina, cujo princípio ativo é extraído do Salgueiro Branco (Salix Alba).
As maiores causas do desmatamento no Brasil são as queimadas (veja você!), a agropecuária e a monocultura, principalmente a soja. Segundo o IBGE, no Brasil existe mais gado do que pessoas. No Norte do País, a proporção é de 3 cabeças de gado por pessoa. Olha o absurdo! E continua crescendo. A avaliação de carne no Brasil não cumpre nenhuma certificação ambiental, apenas sanitária. Precisa-se de um plano de manejo adequado ou continuará a acontecer o ciclo vicioso de ações insustentáveis: extrai a madeira, taca fogo e bota gado, deixando a terra totalmente improdutiva. E o consumo de carne no país – mesmo com a alta dos preços – e fora dele está cada vez maior, expandindo continuamente a demanda.
Outra incoerência absurda será se, em pleno Ano Internacional das Florestas, forem aprovada as mudanças sugeridas para o Código Florestal Brasileiro, que prevê anistia a desmatadores, aumenta a porcentagem de área produtiva e diminui a área de preservação. É consenso entre estudiosos que ele é muito mal formulado e sem embasamento técnico. Usar essas alterações somente como ferramenta política, deixando de lado a preocupação em se preservar o meio ambiente, é um dos erros mais estúpidos que o governo brasileiro poderá cometer nas últimas décadas. Torcemos para que a necessidade fundamental de todos seja priorizada frente ao interesse egoísta de poucos.

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